sexta-feira, 26 de junho de 2009

'Allo 'Allo

Levar a guerra a brincar pode ser a melhor forma de a ganhar.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Professores com paixão

Os professores que marcaram a minha vida não foram aqueles que eram sábios (que os tive).
Foram aqueles com dedicação, paciência e empenho tais que a paixão pelo ensino era evidente. São aqueles em quem eu reconheci um Mestre que nada mais queria do que ser suplantado pelos seus aprendizes. E que fazia tudo, mas mesmo tudo, para lhes dar as ferramentas para isso.
De todos, destacam-se dois: o Herr Rueffler e o Herr Prien.
O Herr Rueffler começou por ser meu professor de História no 10º ano, e foi depois Director de turma, professor de alemão e de filosofia nos 11.º e 12.º anos.
O Herr Prien foi meu professor de filosofia no 10.º ano e de ética nos 11.º e 12.º anos.
Não podiam ser mais diferentes na aparência.
O Herr Rueffler era um Senhor, sério, bem escanhoado, que usava sempre fato e gravata. Nos 11.º e 12.º anos fez questão de nos passar a tratar a todos por "Sie", fórmula cerimoniosa da língua alemã, como forma de nos chamar a atenção para o facto de sermos adultos e de que de nós se exigia responsabilidade.
O segundo, Herr Prien, calçava sandálias com meias, não havia meio de combinar as cores da roupa (e não era daltónico), usava uma barba mal aparada que lhe tapava o pescoço e estava sempre a rir. Ah, e nunca na vida tratou um aluno a não ser por "Du" (tu).
Mas na substância eram iguais.
Puxavam pelos alunos como se não houvesse amanhã, questionavam-nos e obrigavam-nos a questionar tudo.
Um elogio de qualquer um deles fazia-me andar nas nuvens. E uma repreensão do Herr Rueffler fazia-me ter vontade de me enfiar num buraco.
Eu sempre gostei de filosofia, mas o Herr Prien levou-me a ver a filosofia como a base de tudo. E ele questionava, discordava de tudo e de todos, só para nos obrigar a pensar.
O Herr Ruefller ginasticou-me a mente. Percebeu que eu adorava literatura e filosofia, e às vezes parecia que exigia de mim muito mais do que exigia dos outros. Eu adorava e tentava corresponder.
Lemos dezenas de livros de autores clássicos alemães (no original, como é evidente) e interpretámos centenas de textos, de todo o tipo.
Ele dava-me um trabalho "monstruoso" e eu adorava. Ainda hoje guardo o trabalho que fiz sobre "Rómulo, o Grande", de Friedrich Duerrenmatt, porque sei que ele gostou do trabalho.
Aquilo que eu fui ou sou, como professora e formadora, devo-o a esses dois homens. Foram eles que me transmitiram que se dá a cana, não o peixe, e que é mais gratificante pescar do que apenas comer o que foi pescado por outros.
Houve apenas uma coisa que eu não fiz, e que teria desiludido o Herr Rueffler se soubesse.
Só o conto agora: não li "Faust" no original até ao fim. Era uma "seca" (não estão a ver o que é ler Goethe em alemão, uma tragédia com aquele volume) e eu sabia que me safava no exame final sem o ler.
No resto, tenho procurado honrar ambos, tal como ao Dr. Mendes Silva. Nunca serei capaz de suplantar aqueles meus Mestres, mas posso tentar fazer igual.

domingo, 21 de junho de 2009

Professores da minha vida - II

Estou por estes tempos a fazer os possíveis para aprender a viver sem uma pessoa que perdi recentemente – nem todas as pessoas nos são levadas pela morte.
Neste momento, por causa dessa perda, lembro-me de outras pessoas que perdi, e a propósito de professores que marcaram a minha vida lembro-me do Dr. Mendes Silva.
Foi meu professor de Português durante aqueles que hoje são designados como 6.º e 7.º anos.
Fui parar à sala dele porque era excessivamente irrequieta para a Dra. Maria de Lourdes, professora no ano anterior. Eu e mais 10 ou 15, que mudaram de professor de Português ao mesmo tempo que eu e pelos mesmos motivos.
Aliás estávamos nós, pré-adolescentes, a “odiar” Gramática Portuguesa, e ali estava ele, aquele Professor simples, com jeito para lidar com gente irrequieta e para lhes abrir a mente.
Na sala dele aprendi a respeitar as palavras e os livros, mas acima de tudo ganhei os alicerces para usar as palavras com propriedade, para saber procurar um sentido naquilo que leio e para pôr em palavras aquilo que me vai no pensamento.
Mas aprendi muito mais, como se isto não chegasse!
Um dia esquecera-me de que tinha uma redacção para fazer, e só por volta da hora do jantar me lembrei. Escrevi umas páginas quase em cima do joelho e entreguei-as no dia seguinte.
Quando me devolveu o trabalho corrigido percebi que fora “apanhada”.
- Fizeste isto a correr, não fizeste?
Tive de admitir que sim, e perguntei como descobrira. Respondeu que “quando escreves a correr inclinas a letra para a direita.”
Fiquei fascinada. Ele preocupava-se comigo – connosco - o suficiente para perceber a diferença na inclinação da letra, não se limitava a corrigir o conteúdo…
O elogio pelo conteúdo desse trabalho, todavia, ensinou-me outra coisa, da qual só me apercebi anos depois: eu trabalho melhor sob pressão.
Foi com ele que comecei a estudar os autores clássicos, e li Eça de uma ponta à outra em poucas semanas. Ele viciou-me na leitura e na escrita.
Foi também com ele que aprendi a fazer divisão de orações, que mais de 25 anos depois me ajudou e ajuda a explicar, no Mapa VI da LOFTJ, a alínea b) a propósito da competência territorial dos Tribunais de Família e Menores.
Cheguei à sala dele a detestar Gramática Portuguesa. Saí da sala dele, dois anos depois, a amar as Letras.
Vem isto a propósito de professores que marcaram a minha vida, mas também a propósito de perdas, porque foi o Dr. Mendes Silva a primeira pessoa que perdi, 3 ou 4 anos depois, num domingo à tarde, na EN1, quando um camião se despistou contra o carro dele.

sábado, 20 de junho de 2009

Professores da minha vida

Tenho sete anos.
Está a chover durante o intervalo e todos os alunos da primária estão dentro do ginásio, sentados nos bancos corridos dos dias de festa.
A professora do ano a seguir ao meu está de pé à nossa frente. As outras professoras estão sentadas no meio de nós, a certificar-se de que nos portamos bem. Não gosto da Frau. É velha (deve ter mais de 40 anos...) tem sempre um ar muito sério e eu tenho medo que ela ralhe. Mas é ela a contadora de histórias nos dias de chuva. Quando ela começa a contar histórias, eu deixo de ter medo dela. Hoje leva-nos de novo numa aventura para um país de árvores de rebuçados e pontes de chocolate.
Há arco-íris, sol, muitas árvores, alegria e guloseimas por todo o lado.
A professora de ar sério conta a história como se estivéssemos, cada um de nós, sentados ao colo dela.
O que eu não sei, nos meus sete anos, é que daqui a 25 anos irei buscar a história do país de guloseimas ao fundo da memória para a contar aos meus filhos, uma e outra vez; e que, como eu, agora que está a chover tanto lá fora, os meus filhos se deixarão levar para um país de guloseimas onde nunca chove.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

E Depois Do Adeus

Faleceu José Calvário.
Muito novo, com a idade que a minha Mãe tinha quando faleceu.
Deixou-nos músicas lindas.
Esta é uma das minhas preferidas.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Ficas responsável por aquilo que cativas

Andando, o principezinho encontrou um jardim cheio de rosas. Contemplou-as... Eram todas iguais à sua flor.
E deitado na relva, ele chorou...
...E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu delicadamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? Perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
- Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exactamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo... Se tu me cativas, a minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos fazem-me entrar debaixo da terra. O teu chamará-me-á para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... Cativa-me! Disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? Perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito... São precisos rituais.
- Que é um ritual? Perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. (...)
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ai! – Exclamou a raposa – Ai que me vou pôr a chorar...
- A culpa é tua, disse o principezinho. Eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Pois quis.
- Mas agora vais-te pôr a chorar!
- Pois vou.
- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! Disse a raposa. Por causa da cor do trigo… Anda, vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo. Quando vieres ter comigo, dou-te um presente de despedida: conto-te um segredo. (...)- Adeus...
- Adeus, disse a raposa. Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos... O essencial é invisível para os olhos – repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... Repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Os homens já se esqueceram desta verdade, disse a raposa. Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa...

Excerto de "Le Petit Prince", de Antoine de Saint-Exupéry

quarta-feira, 10 de junho de 2009

8 + 10 = 17

Não, a conta do título não está errada.
Não falo de aritmética, mas de contagem de prazos.
Os prazos para a prática de actos processuais contam-se por agenda ou calendário (e não é por um calendário Pirelli ou de bolso, é daqueles em que se vejam bem os números e dias da semana).
Não se contam pelos dedos nem de cabeça.
Porque se se contar um prazo de cabeça, e sabendo que o 1º dia do prazo é dia 8, um prazo de dez dias terminaria a 18 (8+10=18). Mas essa resposta está errada. O 1º dia do prazo (8) também conta, portanto o último dia para a prática do acto é dia 17...

domingo, 7 de junho de 2009

Sob pressão

Foi difícil, diz-me quem esteve lá.
Mas conseguiu-se que do EOA, com força de lei, resultasse o direito dos Advogados ao atendimento preferencial quando se dirijam a serviços públicos no exercício do mandato.
Parece que do projecto de alteração do EOA resulta que esse direito desaparece.
Vou ficar - serei só eu? - sob pressão. A vingar a proposta, terei de tirar uma manhã ou uma tarde para obter uma informação junto de Repartições de Finanças, para consultar livros em Conservatórias ou Cartórios, ou para obter uma certidão que seja urgente e não possa esperar os dois dias que leva a chegar pelo correio.
O Cliente vai ter de pagar 4 horas de trabalho em vez de pagar a meia hora que leva a ir, obter o pretendido e voltar. Ou é suposto ser eu a suportar a perda das horas de trabalho?
Sinceramente, não gostei de saber.
Onde é que ficam os direitos arduamente conquistados?

terça-feira, 2 de junho de 2009

Santa Ignorância

Ontem passou-se isto e muito se discutiu sobre se o Bastonário se demite. É isso que vende jornais e programas de televisão.
Salvo o devido respeito, o que é que isso interessa?
O que interessa é o destino da Ordem e o seu futuro, porque dele depende o futuro dos Advogados, apoiantes ou detractores de um ou de outro lado (ou de ambos).
O que mais me chocou e me traz aqui não é esse aspecto jornalístico, mas antes uma parte do programa, na qual se falou de formação.
Eu só ouvia falar em "formação", que a formação é cara, que é da responsabilidade dos Conselhos Distritais, que a regulamentação depende do Conselho Geral...
Não ouvi ninguém explicar à Sra jornalista e ao público que quando se fala em "formação" se fala de realidades distintas, e que "formação de advogados" não se reduz à formação inicial.
Alguém já se lembrou de que o EOA em vigor impõe a formação contínua de advogados e a mesma é praticamente inexistente? E que a formação complementar tem dias (meses) em que anda pelas ruas da amargura?
Os intervenientes no programa de ontem não desconhecem esta realidade (têm obrigação de a conhecer), mas sinceramente parecia...